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16 junho 2019

EQUILÍBRIO INSTÁVEL - PRIMEIRO TEMPO

Sabe quando se está naquele estado de despertar sonolento, com o corpo lento meio adormecido e, de repente, de forma educada, ouve um homem pedir aos passageiros ( e você é um deles) que se deitem no chão do ônibus, pois a polícia está em choque com bandidos?

Um silêncio misto de tensão invade o ônibus, algumas senhoras choram em seu pânico diante da situação, alguns pegam os celulares para avisar aos familiares da situação, outros olham curiosos para entender o que está acontecendo... Eu envio uma mensagem para minha irmã e uma amiga a fim de que saibam onde estou e se no caso de acontecer algo, saibam como me encontrar.

Talvez o estado sonolento tenha servido como "anestésico" para não entrar no clima de pânico instalado em alguns. O fato é que estava ali e não estava, observava e sentia que nada iria acontecer de grave.

Passado o "incidente", seguimos caminho e não deixava de pensar: como seria viver diariamente nesse estado de choque? Com a violência a bater na porta. Como psicologicamente os policiais e seus familiares convivem com essa realidade dia a dia? Como pessoas, trabalhadores, jovens, idosos, mulheres, crianças que vivem em comunidades carentes ficam, principalmente, quando o estado de exceção é o real? Há algum tempo estudo o estado de exceção, mas nunca havia sentido o que é ter o seu direito de ir e vir, de viver, ser retirado. E para essas pessoas, moradoras dessas comunidades, isso é a norma.

A chegada ao centro me fez alterar a rota planejada, gostaria de romper o cotidiano com algo que realmente fizesse sentido, fosse significativo para mim, então, se não era estar com aqueles que eu amo, deveria me aproximar de como vejo a vida - fui à exposição do Paul Klee.

Fazer a imersão na história de vida deste artista, vivenciar como gradativamente ele foi desenvolvendo técnicas de pintura, de desenho, fazer a imersão no sentimento dele, à medida que pairava minutos observando sua arte. Eh! Porque um pedacinho da alma do artista fica registrada em sua arte, me fizeram continuar nesse estado sonolento, em que as horas se passaram e só percebi o tempo cronológico um bom tempo após. Mas continuo a traduzir essa experiência no próximo texto.

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