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24 fevereiro 2012

Uma nova educação

         O texto abaixo pertence a Roberto Crema e apresenta uma discussão acerca dos parâmetros educacionais. Vale refletir.
         Uma nova educação precisa transgredir a normas reinantes e decadente. Com suavidade e vigor, com paciência e atrevimento, com flexibilidade e destemor. É com este intuito que quero apontar para esta epopéia a ser desbravada: educar para a Vida, educar para a excelência, educar para Ser.
             No século XX, nós vivenciamos, horrorizados, a duas guerras mundiais e cerca de três centenas de outras guerras. Inauguramos o século XXI e o terceiro milênio com a gélida face do terror, e os seus nefastos desdobramentos. No momento em que estou falando neste congresso, estão transcorrendo cerca de 35 guerras, 95% das quais por questões étnicas e religiosas. E no triste momento em que estou fazendo a revisão deste texto, 19 de março de 2003, uma guerra insana acaba de ser deflagrada, por aqueles que querem eliminar a violência com uma violência maior... É urgente indagar: onde estamos aprendendo a conviver, a viver com? Talvez em alguns espaços terapêuticos e, seguramente, para os que buscam, aos trancos e barrancos, nas sarjetas da existência...
         Estes tristes fatos indicam o óbvio e escandaloso fracasso da educação convencional. São sintomas indicativos de uma instituição esgotada, em estado de decadência, tendendo para o obsoleto. Modelado pelo paradigma da idade moderna, que surgiu no século XVII, precisamos manter o positivo e funcional deste sistema educacional, prevenindo-nos do desastre que consiste em jogarmos fora a criança, junto com a água suja. O enfoque materialista da ciência convencional, com a virtude da razão analítica e a estratégia operacional do empirismo, legou-nos a maravilha de uma tecnociência que pode estar a serviço da causa humana. Desde que complementada com a inteligência do coração, de onde uma ética emana. Juntamente com o empenho facilitador para o despertar das poderosas correntes da fraternidade, do cuidado amoroso. Para que educamos? Educamos a quem?

Esclarecendo Visões: educar conscientemente

        Façamos uma reflexão de base para esclarecer nossa visão do ser humano, a partir da qual poderemos redesenhar o processo educacional em todas as suas dimensões. Antes de falar de educação necessitamos de esclarecer o que Jean-Yves Leloup denomina de pressupostos antropológicos. Afinal, que ser humano é este que queremos educar? Qual a visão que postulamos do projeto humano?

            A cosmovisão, além de ser uma descrição do mundo, modela a nossa atitude diante do real. Uma antropologia, além de ser uma visão e leitura do ser humano, modela a nossa atitude frente a nós mesmos, frente ao outro e à humanidade. Se não definimos consciente e lucidamente estes pressupostos, será o inconsciente, com o seu fardo de compulsões derivadas do passado, que governará as nossas ações.
Como postulava Eric Berne, todos tivemos que responder algumas questões fundamentais nos primeiros anos da infância: quem sou eu? O que é o mundo? Quem são as pessoas que me rodeiam? Quem sou eu diante dos outros? Eu sou melhor? Eu sou pior? O que acontece a pessoas como eu?... As decisões precoces, decorrentes de nossas respostas infantis, é uma estrutura significativa com valor de sobrevivência, um tipo de manual de operação orientador na relação consigo mesmo, com os outros e o mundo. A decisão de ontem torna-se a compulsão do amanhã. Se este plano nos foi útil, no passado remoto, mais tarde se transforma num bloqueio da inteligência, condenando-nos a nos deixar guiar pela precariedade do pensamento mágico da primeira infância.
       Sem o investimento na tomada de consciência deste programa interior, destas vozes íntimas estruturantes, capazes de dirigir o rumo da existência, é o passado que prevalece, modelando um existir predeterminado, por trilhos viciados, sem o dom da Autoria. Freud denominou a estas poderosas forças de inconsciente. Eric Berne operacionalizou este esquema hipnótico, nomeando-o de script, um plano de existência não consciente, determinado pelas decisões precoces da primeira infância. Stanley Krippner se referiu a esta realidade como mitologia pessoal. O autoconhecimento é uma tarefa pedagógica, talvez a mais nobre e imprescindível....

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